O oratório não foi inventado por Dom Bosco; ele já existia há centenas de anos. Se em Turim, o pai do Oratório foi o p. Giovanni, Dom Bosco colocou-se em suas pegadas e desenvolveu um novo Oratório de grande originalidade e sucesso.
1. Diversamente de seus modelos, o Oratório de Dom Bosco não se apresenta como uma obra paroquial, mas como uma proposta de formação oferecida a pessoas que a paróquia não pode atender. Não se trata tanto de substituí-la, mas de perceber que ela, com a sua estrutura herdada de uma cultura de aldeia, é incapaz de dar uma resposta apta à cultura da cidade, a jovens desenraizados do seu habitat natural. A resposta da comunidade cristã a essas novas situações é, muitas vezes, dogmática, sena de pura condenação: a cidade é o lugar do mal, enquanto impede o trabalho pastoral; a emigração é julgada como uma fuga da busca de novidades perigosas, com a conseqüência perda dos sistemas anteriores de referencia e, portanto da prática religiosas e da fé; a indústria corre risco de ser um espetáculo de vício, uma escola de perdição. Para Dom Bosco, diversamente, a cidade não é o lugar do mal, mas a nova realidade emergente. Pensa em enfrentar os problemas, em encontrar soluções que não se limitam à condenação. E será a realidade urbana a indicar-lhes os caminhos a tomar: recolher os jovens abandonados oferecer-lhes um lugar de encontro (que se torna também lugar de diversão, coisa essencial para os meninos), dar-lhes uma cultura de base que não os deixe desarmados diante das novas realidades e, enfim, oferecer a possibilidade de trabalho. A base de tudo será a formação religiosa, condição preliminar para a aquisição dos valores morais. A instituição oratoriana Valdocco torna-se assim o lugar de passagem e inculturação dos jovens que chegam do campo à cidade, que se transferem da sociedade rural à sociedade transformada pela industrialização: o seu primeiro encontro-desencontro com a modernidade.
2. O Oratório de Valdocco acolhe, de inicio garotos ligados a atividades de construção e obras públicas, dos 8 aos 20 anos, alguns saídos da prisão. O fluxo dos jovens é variado: sucedem-se em ritmo contínuo de chegadas e partidas: há os que vem só à noite; outros, mais pequenos, só aos domingos e dias de festa. Quase todos provem a periferia da cidade e da província e são, na maioria, órfãos ou meninos de rua. Dom Bosco reúne-os, no domingo à noite, e faz-lhes as recomendações de um bom pai de família.
3. A organização do Oratório tem suas regras precisas, mas também inúmeras margens de adaptação a tipologias diversas dos jovens. Isso serve, por exemplo, para a oração, freqüente de nunca descuidada, mas diante dos esquemas clássicos da vida paroquial. Para os jovens chamados ao trabalho sem descanso, a festa é ocasião de pausa, de um momento de oração, mas também de alegria, clima familiar são elementos fundamentais da firmação religiosa. A finalidade do Oratório é certamente a salvação da alma, mas mudam os instrumentos e os métodos: o medo e o temor são substituídos pela alegria, pelo carinho, pela ternura, pela paternidade. O jogo, compartilhado por Dom Bosco e seus clérigos, adquirem força pedagógica: muda o estilo do padre do “sacramento”, “separado”, que se transforma no padre inserido, que participa e compartilha tudo que seja dos jovens, que o devem considerar não uma personalidade distante, mas um companheiro de brincadeiras e de vida.
4. Levado aos poucos pelas exigências da situação, o Oratório transforma-se. Num primeiro período, os jovens vêm do mundo do trabalho, precisam apenas de uma formação cultural de base, escola de religião, um trabalho. Em seguida, acrescenta-se as escolas elementares diurnas para que não pode freqüentar as públicas, escola ginasiais, internato, oficinas de artesanato (primeiros passos para as escolas profissionais); alguns
clérigos disponíveis tornara-se “sociedade salesiana”. O Oratório, porém, continua sempre o ponto de referência do trabalho de Dom Bosco, que explicava o seu sistema com as três palavras: razão, religião, carinho, palavras “atuadas” para acolher e prover os jovens em suas necessidades mais variadas, inclusive a sua responsabilização. Todos devem colaborar, cada um é objeto e sujeito de todas as iniciativas; a gestão de tudo é, muitas vezes, confiada a pequenos grupos mais responsabilizados, que formam o elemento arrebatador da massa juvenil.O desenvolvimento prodigioso da obra salesiana só pode ser compreendido a partir da experiência das origens. O primeiro Oratório de Turim-Valdocco será sempre o modelo ideal do que se inspirar.